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Psicologia Clínica e Direcção

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sábado, 3 de setembro de 2011

A construção de identidade no adolescente


A identidade constrói-se através do desenvolvimento da auto-estima, auto-conceito, resolução de conflitos, emoções, entre outras.
A auto-estima pode-se definir como uma avaliação global da pessoa feita por si mesma, e é o valor que o indivíduo atribui a si mesmo e caso seja positiva, leva-o a ter grande confiança nas suas capacidades e competências (Henriques, 2000), bem como uma saudável construção de identidade.
As crianças que gostam de si mesmas tendem a aceitar melhor as frustrações do dia-a-dia e não perdem tão facilmente a confiança nelas mesmas. (Moreira, 2005).
Todas as pessoas têm objectivos e tomam decisões. No nosso quotidiano somos frequentemente confrontados com diferentes alternativas de escolha, o que nos coloca em constante conflito com que temos de lidar, e em situações em que precisamos de decidir o que fazer.
O processo de tomada de decisão está, portanto, associado a uma variedade de situações, dúvidas, dilemas, conflitos ou problemas, presentes na crise de identidade.
Tomar uma decisão implica identificar e resolver um dado problema, ou seja, fazer uma escolha atendendo às alternativas existentes (Moreira, 2005).
Todas os adolescentes sentem os acontecimentos. O que nos distingue uns dos outros não são tanto as reacções (emoções), mas principalmente os significados que atribuímos a essas reacções (significados que dependem, das nossas experiências passadas).
Dependendo da interpretação que façamos das reacções, dos significados que edificamos, tendemos a agir de determinada forma, o que, por sua vez, influencia as reacções corporais e as emoções, bem como a própria interpretação e significados que construímos da situação (Moreira, 2005).
As emoções são elementos fundamentais no desenvolvimento integral dos adolescentes. Todas as situações de vida estão recheadas de emoções. Podemos experimentar, uma diversidade de emoções, desde alegria, a tristeza, revolta e medo. Perante diversas situações, o nosso organismo dá uma determinada resposta, ou seja, tem sensações, reacções corporais e emoções (Moreira, 2005).
A assertividade, é uma capacidade para uma boa formação de identidade, em muitos autores aparece como sinónimo de competência social (Gonçalves et al., 1984, Caballo 1982). Autores como Goldstein (1980), vieram contestar esta perspectiva, afirmando que a assertividade não seria sinónimo de competência social, mas sim, uma aptidão social complexa. Por outro lado, pode-se afirmar que o sujeito por vezes não sabe distinguir ou compreender a diferença entre a assertividade e a agressividade, levando-o a adoptar comportamentos não assertivos (Lange & Jakubowsky, 1976; citados por Matos, 1998).
Neste sentido, estes factores devem estar presente num programa de identidade de forma a fornecer as ferramentas necessárias ao adolescente para uma formação equilibrada da sua identidade.

Joana Martins
Psicóloga Educacional

quinta-feira, 9 de junho de 2011


A Competência Social diz respeito à capacidade social, emocional e cognitiva bem como aos comportamentos que as crianças precisam para uma adaptação social bem sucedida, portanto, ao modo de estar da criança e ao modo como se relaciona com outras pessoas.
As competências sociais são, assim, definidas como a capacidade que a criança possui para desenvolver relações positivas com adultos e crianças. O desenvolvimento das crianças, em todas as suas áreas de funcionamento, é influenciado por esta capacidade de estabelecer, de manter positiva e consistente a relação com os adultos e pares.
Para as crianças em idade escolar a gestão eficaz das relações entre pares representa uma importante tarefa de desenvolvimento e um indicador primário da disponibilidade escolar. As brincadeiras das crianças iniciadas durante a pré-escola proporcionam um contexto de desenvolvimento dinâmico no qual se manifesta esta competência.
Actualmente, tem-se verificado um aumento da procura de estratégias e procedimentos mais sistemáticos para a implementação de programas de treino de aptidões sociais com crianças. O treino tem sido aplicado nas crianças com diversos problemas alvo, incluindo isolamento social, falta de assertividade e comportamentos agressivos (Bellack, cit. por Michelson, 1986).
De acordo com Bellack (cit. por Michelson, 1986), as técnicas designadas para desenvolver as aptidões sociais são tipicamente utilizadas juntamente com dois modelos gerais. O primeiro modelo percepciona os problemas relacionados com as aptidões sociais como casos de défice ao nível das aptidões. A noção de défices é baseada na
suposição de que as crianças não têm nos seus reportórios de respostas o requisito aptidões para interagir, bem com os outros. O segundo modelo é baseado na visão de que as crianças podem ter as aptidões necessárias mas estão a experenciar estados ou processos de competição emocional, afectiva ou cognitiva que interferem com a expressão da sua capacidade.
Neste contexto podem ser implementadas várias frentes de intervenção, que vão desde a promoção da interacção e cooperação entre sujeitos mais e menos competentes socialmente (Furman, Rahe & Hartup, 1979; Johnson & Johnson, 1983), até à sua inserção em díade ou em pequenos grupos na resolução activa de problemas (Shure & Spivack, 1972) ou ainda, à sua submissão a programas próprios de promoção de competência social aplicáveis nas escolas (Michelson, Sugai, Wood & Kazdin, 1983; cit. por Ibérico Nogueira, no prelo).
Enquanto psicóloga educacional é possivel intervir no âmbito das competências sociais em diversos contextos escolares. Neste sentido apresento algumas sugestões de actividades que podem ser desenvolvidas no contexto pré-escolar.

Joana Martins
Psicóloga Educacional

sábado, 27 de fevereiro de 2010

No mundo das emoções…



“ A mãe fica triste quando eu não faço o que ela quer e não lhe dou beijinhos…”
Com esta pequena frase entramos no mundo dos afectos de uma criança de cinco anos.
Desde o nascimento as crianças têm consciência do que é sentir alegria, tristeza, medo ou zanga. Sabem quais as situações que desencadeiam os vários sentimentos, no entanto revelam uma tendência para misturar tristeza e zanga, conferindo um só motivo para os dois estados emocionais.
É cada vez mais importante promover as competências emocionais, nas crianças em idade precoce. No período pré-escolar ocorrem importantes mudanças no desenvolvimento: as crianças mudam de contexto privilegiado de desenvolvimento e adquirem a consciência de que estão inseridas num mundo maior do que o que era a sua casa… As crianças são agora conduzidas a estabelecer laços de afectividade, não com apenas uma figura, mas várias e com diferentes formas. Por isso, pode-se afirmar que estas mudanças ocorrem a vários níveis: físico, cognitivo e psicossocial.
A competência emocional pode ser definida como a capacidade de cada criança em responder de forma emocionalmente adequada e eficaz, e transformar as emoções negativas desencadeadas nas diferentes situações sociais, em emoções positivas, de modo a ultrapassar os diferentes obstáculos intra-inter pessoais.
As capacidades como identificação, diferenciação, expressão e reconhecimento das emoções constituem-se como os domínios chave da competência emocional. Reflectem-se na auto-consciência emocional; regulação emocional; auto-motivação; no estabelecimento de relações positivas e reconfortantes com os outros, bem como na possibilidade de construção de uma identidade positiva de si mesmo. Deste modo, este constructo não se encontra isolado de outras áreas do desenvolvimento. Exerce e sobre ele são exercidas diferentes áreas do desenvolvimento, como o auto-controlo e disciplina; auto-estima e competências sociais.
Actualmente assume-se como uma necessidade imperial para a própria protecção das crianças. Cada vez mais as crianças passam o seu tempo, que não é igual ao dos adultos, sozinhas, expostas a diversos riscos, sendo por isso que surgem num determinado momento do desenvolvimento, uma diversidade de problemas: dificuldades escolares; comportamentos disruptivos, problemas emocionais, e como consequência o aumento do consumo de substâncias, entre outros.
Chamo a atenção para a importância dos pais na intervenção da promoção destas competências nos seus filhos. Os pais são os primeiros agentes de socialização e de educação emocional das crianças. Numa primeira fase de vida, a observação e a imitação constituem-se como os principais meios de aprendizagem da criança. A partir das interacções precoces com as figuras parentais, as crianças constroem uma representação do mundo que as rodeia e de si mesmas.
Por isso, é necessário alertar para a importância do envolvimento parental, o qual pode ser definido como a participação activa por parte dos pais no desenvolvimento dos seus filhos, seja através do ingresso nas Associações de Pais, nas reuniões de pais, quer na participação nos programas de promoção do tipo de competências aqui abordadas. Quando os pais se envolvem, as crianças desenvolvem uma representação positiva de si mesmas e do mundo… Confere-lhes a percepção de que existe alguém que cuida, protege e as ama incondicionalmente.
Crescer a Sentir…

Carla Ferreira

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

OLHANDO O LADO OCULTO DA ANOREXIA NERVOSA...


Neste artigo, pretendo falar-vos do lado recôndito, da face oculta daquela que é uma doença que tem vindo a preocupar crescentemente clínicos, pais e educadores, uma vez que, a sua incidência na população, especialmente em raparigas adolescentes, está a aumentar – refiro-me à Anorexia Nervosa, cujo inicio se esconde, entre outras características observáveis, por detrás do desejo intenso de emagrecer e, medo enorme de engordar.
É verdade que, fazer dieta tornou-se uma prática corrente, especialmente entre adolescentes, mas também, entre pessoas de idade inferior e, adultos, o que quer dizer que existe um desejo generalizado de emagrecer, de cuidar da aparência física, ou não se caracterizasse a sociedade actual pelo culto do corpo. Na maioria dos casos, esta insatisfação com o corpo e peso que se tem, esta vontade impressiva de os melhorar, é concordante com uma tentativa de alcançar, de se assemelhar o mais possível a um ideal estético, muito patente na cultura ocidental – o ideal de magreza!
É igualmente verdade que, a realização de dietas restritivas e a influência dos factores socioculturais, constituem dois dos principais desencadeantes da doença, mas esta, embora sendo tudo isto, não o é só, e porquê? Porque apesar da importância reconhecida da imagem estética idealizada e da restrição alimentar no despoletar da Anorexia Nervosa, a realidade é que por detrás destes factores, encontram-se mecanismos psicológicos – as suas causas – que justificam esta influência. Caso contrário, por um lado teríamos muito mais pessoas a sofrer da doença dado que, a realização de dietas restritivas não é invulgar, e por outro, paradoxalmente, a perturbação deixaria de existir assim que a pessoa alcançasse este ideal (e não é isso que acontece, a jovem ultrapassa em larga escala o peso e medidas corporais “socialmente” aconselháveis).
É nesta linha de sentido, que muitos autores referem que a preocupação com o corpo e peso, é superficial, vindo esconder preocupações mais profundas que se prendem com grandes fragilidades emocionais e relacionais, aquilo que acinzenta a personalidade e faz sofrer a pessoa com propensão à doença. Este mascarar das dificuldades de fundo, não é de forma alguma intencional, o transferir para o corpo, o mal-estar que é vivido psicologicamente na relação da pessoa consigo mesma e com os outros, traduz a impossibilidade de pensar, sentir e solucionar aquilo que constituem as verdadeiras problemáticas da doença.

De uma forma geral, estas pessoas sentem-se profundamente ineficazes e incompetentes, e estes sentimentos encontram-se espelhados em todas as áreas da sua vida. Sentem que não têm qualidades de amabilidade (de fazer o Outro gostar de si), consideram que só podem obter o afecto, a admiração e o respeito das outras pessoas se as agradarem, se lhes demonstrarem que os merecem. Não existe nestas pessoas, aquilo que é a plataforma dos sentimentos de auto-estima e autoconfiança – a crença na incondicionalidade do amor (gostam de mim, só e apenas por aquilo que sou).
O resultado de tudo isto, é uma vivência dedicada ao Outro, às suas vontades, expectativas e desejos, uma vida circunscrita à auto-imposição de um comportamento exterior perfeito, controlado e altamente rigoroso, no qual a pessoa não se permite falhar, desiludir, conhecer as suas próprias necessidades e emoções – deixando de existir (psicologicamente) em função daquilo que esperam de si - na derradeira esperança de ser gostada!
Na infância, a “prenda oferecida” aos pais eram os elevados resultados escolares, a obediência, a conduta exemplar, na adolescência e, porque existem agora os pares para agradar (dado o receio de não ser aceite, de não se integrar), o emagrecimento surge como a forma que encontram para serem motivo de interesse e admiração dos últimos.
Ora sabendo-se que, a magreza é factor de admiração na nossa sociedade, percebe-se que inicialmente, estas jovens se sentem mais confiantes, com a auto-estima ligeiramente insuflada, vale dizer mais competentes, menos inseguras, ao serem elogiadas pelas pessoas com que convivem. Mas, quando o emagrecimento se torna excessivo e, ao invés de ouvirem comentários gratificantes, ouvem opiniões menos positivas e de franca preocupação, aquilo que os outros pensam deixa de ter importância, assim como, evidenciam uma particular despreocupação relativa às consequências médicas graves decorrentes do estado de mal-nutrição.
É que nesta altura, não podem ou sentem não poder abandonar a função “vital” que a Anorexia Nervosa, vem ilusoriamente preencher: a realização de dietas, com a consequente perda de peso, vem dar a estas jovens um sentimento de competência e eficácia – sou capaz! – e, ao mesmo tempo vem enganar a inferioridade sentida em relação aos outros – controlo-me como ninguém, a minha disciplina e convicção não se encontram em todas as pessoas!
De facto, como Daniel Sampaio tão bem verbalizou, “A Anorexia Nervosa não é uma doença de dietas e calorias!”, a que eu acrescento – é uma doença dos afectos, por excelência. Dizia uma paciente: “ Não consigo ficar bem por mais que queira, não quero deixar as dietas, e se engordo outra vez? E se fico gorda, depois começa tudo outra vez... não, não consigo”, a que eu respondi, “Tem medo de voltar a sentir-se inferior, sem competências, porque de forma enganadora a Anorexia veio fazê-la sentir-se capaz, forte emocionalmente.”

Eliana Baptista

"Quando a Cabeça Não Tem Juízo...o Corpo é Que Paga."


Quando a Cabeça Não Tem Juízo…

Já António Variações cantava e muito bem, “Quando a cabeça não tem juízo. Quando te esforças mais do que é preciso. O corpo é que paga…”.

É muito comum nos dias de hoje, ouvirmos relatos de pessoas que se queixam de problemas físicos, para os quais não encontram justificação, pois realizam uma série de exames médicos, que acabam por não fundamentar os batimentos cardíacos acelerados, as tonturas, a falta de ar, as dores de estômago, os vómitos, as dores musculares e por aí além.

Estas situações, cada vez mais frequentes, são muitas vezes mal compreendidas, pois na ausência de justificação médica, são tidas como meras chamadas de atenção, ou nervosismo, não lhes sendo dada a devida importância e o tratamento adequado.

Ao falarmos de psicossomática, temos que começar por perceber, que embora haja uma implicação emocional no processo, os sintomas físicos resultantes desta problemática, são realmente sentidos e causam dor, pânico, cansaço, falta de ar, entre outras sensações, não devendo por isso, a queixa de quem sofre, ser tratada como algo que não existe.

A psicossomatização, é o processo através do qual, uma pessoa transfere para o corpo, uma carga emocional relacionada com conflitos internos, com os quais tem dificuldade em lidar. Sendo assim, perante a dificuldade em exteriorizar as emoções, estas vão sendo acumuladas mentalmente e recalcadas, para que ninguém as perceba e para que se possa evitar o confronto. No entanto, o espaço dentro da caixinha, que é a nossa mente, dedicado a estas emoções é limitado e há alturas, em que inevitavelmente, transborda.

O que sucede, é que a tensão provocada pelo armazenamento de coisas não ditas, vontades contrariadas e agressividade não expressada, acaba por se acumular no corpo, causando manifestações, que variam de pessoa para pessoa, de acordo com a idade, personalidade e até com a problemática psicológica em questão.

Penso que todos já passámos pela situação de irmos fazer um teste com de dores de barriga, ou com sensação de náusea. Pois este exemplo retrata a o lado “soft” da somatização.

Devemos encarar a situação com mais seriedade, quando o nosso dia a dia começa a ser afectado e a nossa saúde física a ser degradada, pois embora o problema não parta do corpo, parte da mente para ele e, uma vez que lá chega, o problema é real. Tão real, que em alguns casos muito graves, podem surgir doenças físicas francamente complicadas.

Não invalidando a importância de um bom acompanhamento médico nas situações de psicossomatização, a toma de medicação vai aliviando os sintomas temporariamente, mas não alcança o fundo da questão e o que sucede, é que a tensão vai sempre procurando novas formas de ser aliviada. Se algum comprimido suprime o aceleramento cardíaco ou acalma a ansiedade, é bem possível, surgirem dores no corpo.

Existem situações que são temporárias e relacionadas com alguma questão pontual. No entanto, a maioria dos casos que tenho observado, prendem-se com questões relacionais muito presentes na vida de cada um, relacionadas com os vínculos familiares, sociais e profissionais, com os quais se lida diariamente.

Em muitos casos, apura-se uma incapacidade para expor opiniões ou para expressar agressividade perante algo desagradável que parta do outro. E voltando a António Variações, “Quando a cabeça não se liberta das frustrações inibições, toda essa força que te aperta. O corpo é que sofre…”.

Nas crianças, a somatização surge da mesma forma, mas com manifestações como febre, enurese nocturna (xixi na cama), vómitos, dores de barriga, entre outras, sempre que alguma coisa as preocupa seriamente, sobre a qual não quiseram, não puderam, ou não conseguiram falar.
Também os mais pequeninos guardam na sua caixinha mental, tudo o que consideram feio, mau e prejudicial, acarretando a culpa por tais sentimentos.

Por exemplo, é habitual as crianças reprimirem sentimentos de raiva em relação aos pais, quando estes os contrariam, pois somos ensinados a gostar sempre deles e a acreditar que têm sempre razão. São poucas as que são ensinadas a expressar tais afectos negativos sem se sentirem fortemente culpadas.

Normalmente cumprem o castigo “rogando as suas pragas” aos pais em silêncio, ou ficam extremamente ofendidos por apanhar uma palmada, infelizmente em alguns casos, mais do que uma, mas poucos exprimem o quão zangados e furiosos ficam. Não verbalizam os “não gosto de ti”, “agora não te quero ver” ou “magoaste-me muito”, acumulando-os no seu mundo interno.

Se todos esses sentimentos não são exteriorizados através de birras e palavras, acabam por ser expulsos através de um xixi na cama, ou vómitos durante a noite, entre outras manifestações.

Nos adolescentes e nos adultos a gravidade da situação e permanência dos sintomas pode ser mais grave, uma vez que recalcamentos e conflitos internos podem estar mais cristalizados e menos susceptíveis de serem trabalhados.

Em qualquer idade, estas situações não devem ser encaradas como fases, que vão passar, mesmo que só se manifestem ciclicamente, pois o seu encobrimento pode gerar situações mais complicadas e problemas físicos muito reais e graves.



Helena Mourão. Fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Boas Memórias

Excerto do meu relatório de estágio...

Recordando o primeiro dia em Santa Maria, a lembrança é a de um menino perdido, embora rodeado de pessoas, cujo olhar pairava sobre o nada.
Deste primeiro contacto com um mundo em que tudo parecia estar suspenso no ar, sem terreno seguro para pousar, nasceu uma vontade de descobrir novos mundos e possíveis formas de se viver neles.
Esta vontade já alcançada, realizou em cada passo um desejo de avançar mais e de dar mais.
A gratificação, surgiu sob a forma curiosa de um sorriso ou no alívio de um choro que desabafa, na conquista de pequenas capacidades, na descoberta de novos caminhos e na vontade de os percorrer.
E se a início o sentimento era um misto de curiosidade e medo, com o passar do tempo, o desintegrado integrou-se, o perdido foi encontrado e as angústias foram contidas. A desorientação, por vezes experienciada foi acalmada por ajudas conselheiras, orientadoras dos melhores percursos.
Neste mar de descobertas, por vezes com algumas ondulações, foi-se apurando um saber e um saber fazer em Psicologia Clínica, promovendo-se o início de uma longa etapa a percorrer, onde a aquisição de experiência ainda agora nasceu.

Helena Mourão, 2000

"Sinto-me Mal com o Que Sou"


... para uma breve leitura da depressão infantil.


Em Amor de Perdição, obra recheada de afectos depressivos na sua expressão fundamental – a ameaça da perda do amor daquele que dependemos emocionalmente – Camilo Castelo Branco, escreve assim: “... no amor que nos dão, é que nós graduamos aquilo que valemos em nossa consciência...” . Eu acrescentaria, é na qualidade do afecto que recebemos, que avaliamos a nossa potencialidade para sermos amados.
Esta afirmação é acima de tudo fiel, quando é de crianças que falamos, uma vez que, é precisamente na infância em que mais dependemos da apreciação que fazem de nós, a qual é decisiva se tivermos em conta que, é nesta altura que os pilares, da nossa personalidade futura, se apoiam.
Quando somos pequenos, tudo aquilo que nos oferecem, todas as experiências relacionais a que estamos expostos confluem, e de que maneira, na representação interna que vamos fazendo de nós mesmos e, de nós na relação com os outros – assim, se as experiências forem valorizantes, gratificantes, vale dizer, de qualidade, cresceremos com uma imagem positiva, com um sentimento de segurança, confiança e valor pessoal, bem como, com a crença de que realmente, podemos partilhar a nossa interioridade, e também as nossas vivências com as outras pessoas, porque da interacção relacional poderá brotar algo criativo, prazeroso.
Se pelo contrário, as nossas primeiras trocas afectivas com o “mundo” forem frustrantes, desvalorizantes ou insuficientes em comparação com o que precisamos, formaremos uma imagem negativa de nós próprios, desacreditaremos nas nossas capacidades e, sentir-nos-emos em permanente inferioridade em relação às outras pessoas que, julgaremos sempre melhores que nós.
Mas então, porque razão nos construímos assim? A resposta é simples, ainda que em muitos casos, de complexa compreensão – é que, quando damos os nossos primeiros passos no palco relacional, aquilo que nos faz ficar de pé é a imagem que vemos reflectida nos olhos e actos daqueles de quem dependemos, assim, como o actor de profissão, precisa do aplauso e reconhecimento do público para continuar confiante a representar. Quer isto dizer, que gostamos de nós depois de termos percepcionado e sentido que alguém nos amou apaixonada e incondicionalmente – em pequenos, dependemos em grande grau da imagem que vemos reflectida no olhar espelhado do Outro!
A criança deprimida sente-se desinteressante, inferior, incapaz, pouco valorizada e apreciada, guardando dentro de si um imenso sentimento de infelicidade e, considerando-se responsável (por falta de atributos!) pela desilusão que julga ter causado aos seus pais, “por sentir não ser o filho que estes gostariam de ter”. Este aspecto, em alguns casos não é real, os pais gostam e desejam aquela criança, mas, não o expressam de forma a que esta o perceba. Daí as frequentes auto-depreciações como, “não consigo, não sei, não sou capaz, não sirvo para nada, os outros são melhores que eu,...” e, quando reina uma culpabilidade imensa, “não mereço, sou má, só faço os outros ficarem tristes....”. Toda esta comunicação está indubitavelmente, agrilhoada a um olhar apático, frágil, amedrontado ou, ávido, na esperança de poder receber algo de bom.
De salientar, que a depressão na infância não se expressa da mesma forma que a depressão no adulto, dependendo da idade de desenvolvimento com frequência se observam as seguintes máscaras da afectividade depressiva: na primeira infância, alterações alimentares e do sono (respectivamente, falta de apetite e a insónia ou hipersónia); perturbação do controlo dos esfíncteres (por exemplo, o fazer chichi à noite – enurese -, ou o cocó em alturas inapropriadas do dia – encoprese); queixas de dores de cabeça, abdominais sem causa física; em idade escolar as dificuldades na aprendizagem (problemas de comportamento, dificuldade em adquirir, reter, ou usar conhecimentos); os problemas de comportamento (instabilidade, hiperactividade, agressividade, furtos e mentiras ou, inibição e isolamento).

O antídoto para a depressão? Nada melhor que uma educação afectuosa, compreensiva, calorosa, na qual a criança se sinta acolhida e livre de exprimir o que deseja, mas, tal como, Pedro Strecht referiu, “... sem abdicar de marcar regras e limites, porque os sentimentos de falha afectiva ou insuficiência, podem ter origem quer no excesso de restrições e impeditivos de acção, quer na ausência dos mesmos. Sem os primeiros, as crianças não recebem o suficiente, sem os segundos recebem o suficiente, mas não lhes chega e falta sempre muito mais para o que esperam ou desejam...” .
Para uma criança feliz é, preciso tudo: saber amar, escutar, compreender, brincar, ralhar... é preciso encontrar a resposta justa e adequada em função desse pequeno ser e da leitura das suas necessidades ... . E acima de tudo, é preciso não esquecer que, tal como Camilo Castelo Branco escreveu e, eu completei, é a qualidade do amor que nos dão, que determina a nossa auto-imagem e, mais tarde a nossa capacidade de solucionar problemas e realizar adaptações.

Eliana Baptista

Sobre o EBHM

EBHM são as iniciais dos nomes das duas Psicólogas Clínicas que deram vida a este espaço terapêutico. Eliana Baptista e Helena Mourão, licenciaram-se no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em condições pré-Bolonha. Embora já se conhecessem, foi após um reencontro proporcionado pela actividade profissional, que despertou a vontade conjunta de trabalhar em equipa.