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Psicologia Clínica e Direcção

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sábado, 27 de fevereiro de 2010

No mundo das emoções…



“ A mãe fica triste quando eu não faço o que ela quer e não lhe dou beijinhos…”
Com esta pequena frase entramos no mundo dos afectos de uma criança de cinco anos.
Desde o nascimento as crianças têm consciência do que é sentir alegria, tristeza, medo ou zanga. Sabem quais as situações que desencadeiam os vários sentimentos, no entanto revelam uma tendência para misturar tristeza e zanga, conferindo um só motivo para os dois estados emocionais.
É cada vez mais importante promover as competências emocionais, nas crianças em idade precoce. No período pré-escolar ocorrem importantes mudanças no desenvolvimento: as crianças mudam de contexto privilegiado de desenvolvimento e adquirem a consciência de que estão inseridas num mundo maior do que o que era a sua casa… As crianças são agora conduzidas a estabelecer laços de afectividade, não com apenas uma figura, mas várias e com diferentes formas. Por isso, pode-se afirmar que estas mudanças ocorrem a vários níveis: físico, cognitivo e psicossocial.
A competência emocional pode ser definida como a capacidade de cada criança em responder de forma emocionalmente adequada e eficaz, e transformar as emoções negativas desencadeadas nas diferentes situações sociais, em emoções positivas, de modo a ultrapassar os diferentes obstáculos intra-inter pessoais.
As capacidades como identificação, diferenciação, expressão e reconhecimento das emoções constituem-se como os domínios chave da competência emocional. Reflectem-se na auto-consciência emocional; regulação emocional; auto-motivação; no estabelecimento de relações positivas e reconfortantes com os outros, bem como na possibilidade de construção de uma identidade positiva de si mesmo. Deste modo, este constructo não se encontra isolado de outras áreas do desenvolvimento. Exerce e sobre ele são exercidas diferentes áreas do desenvolvimento, como o auto-controlo e disciplina; auto-estima e competências sociais.
Actualmente assume-se como uma necessidade imperial para a própria protecção das crianças. Cada vez mais as crianças passam o seu tempo, que não é igual ao dos adultos, sozinhas, expostas a diversos riscos, sendo por isso que surgem num determinado momento do desenvolvimento, uma diversidade de problemas: dificuldades escolares; comportamentos disruptivos, problemas emocionais, e como consequência o aumento do consumo de substâncias, entre outros.
Chamo a atenção para a importância dos pais na intervenção da promoção destas competências nos seus filhos. Os pais são os primeiros agentes de socialização e de educação emocional das crianças. Numa primeira fase de vida, a observação e a imitação constituem-se como os principais meios de aprendizagem da criança. A partir das interacções precoces com as figuras parentais, as crianças constroem uma representação do mundo que as rodeia e de si mesmas.
Por isso, é necessário alertar para a importância do envolvimento parental, o qual pode ser definido como a participação activa por parte dos pais no desenvolvimento dos seus filhos, seja através do ingresso nas Associações de Pais, nas reuniões de pais, quer na participação nos programas de promoção do tipo de competências aqui abordadas. Quando os pais se envolvem, as crianças desenvolvem uma representação positiva de si mesmas e do mundo… Confere-lhes a percepção de que existe alguém que cuida, protege e as ama incondicionalmente.
Crescer a Sentir…

Carla Ferreira

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

OLHANDO O LADO OCULTO DA ANOREXIA NERVOSA...


Neste artigo, pretendo falar-vos do lado recôndito, da face oculta daquela que é uma doença que tem vindo a preocupar crescentemente clínicos, pais e educadores, uma vez que, a sua incidência na população, especialmente em raparigas adolescentes, está a aumentar – refiro-me à Anorexia Nervosa, cujo inicio se esconde, entre outras características observáveis, por detrás do desejo intenso de emagrecer e, medo enorme de engordar.
É verdade que, fazer dieta tornou-se uma prática corrente, especialmente entre adolescentes, mas também, entre pessoas de idade inferior e, adultos, o que quer dizer que existe um desejo generalizado de emagrecer, de cuidar da aparência física, ou não se caracterizasse a sociedade actual pelo culto do corpo. Na maioria dos casos, esta insatisfação com o corpo e peso que se tem, esta vontade impressiva de os melhorar, é concordante com uma tentativa de alcançar, de se assemelhar o mais possível a um ideal estético, muito patente na cultura ocidental – o ideal de magreza!
É igualmente verdade que, a realização de dietas restritivas e a influência dos factores socioculturais, constituem dois dos principais desencadeantes da doença, mas esta, embora sendo tudo isto, não o é só, e porquê? Porque apesar da importância reconhecida da imagem estética idealizada e da restrição alimentar no despoletar da Anorexia Nervosa, a realidade é que por detrás destes factores, encontram-se mecanismos psicológicos – as suas causas – que justificam esta influência. Caso contrário, por um lado teríamos muito mais pessoas a sofrer da doença dado que, a realização de dietas restritivas não é invulgar, e por outro, paradoxalmente, a perturbação deixaria de existir assim que a pessoa alcançasse este ideal (e não é isso que acontece, a jovem ultrapassa em larga escala o peso e medidas corporais “socialmente” aconselháveis).
É nesta linha de sentido, que muitos autores referem que a preocupação com o corpo e peso, é superficial, vindo esconder preocupações mais profundas que se prendem com grandes fragilidades emocionais e relacionais, aquilo que acinzenta a personalidade e faz sofrer a pessoa com propensão à doença. Este mascarar das dificuldades de fundo, não é de forma alguma intencional, o transferir para o corpo, o mal-estar que é vivido psicologicamente na relação da pessoa consigo mesma e com os outros, traduz a impossibilidade de pensar, sentir e solucionar aquilo que constituem as verdadeiras problemáticas da doença.

De uma forma geral, estas pessoas sentem-se profundamente ineficazes e incompetentes, e estes sentimentos encontram-se espelhados em todas as áreas da sua vida. Sentem que não têm qualidades de amabilidade (de fazer o Outro gostar de si), consideram que só podem obter o afecto, a admiração e o respeito das outras pessoas se as agradarem, se lhes demonstrarem que os merecem. Não existe nestas pessoas, aquilo que é a plataforma dos sentimentos de auto-estima e autoconfiança – a crença na incondicionalidade do amor (gostam de mim, só e apenas por aquilo que sou).
O resultado de tudo isto, é uma vivência dedicada ao Outro, às suas vontades, expectativas e desejos, uma vida circunscrita à auto-imposição de um comportamento exterior perfeito, controlado e altamente rigoroso, no qual a pessoa não se permite falhar, desiludir, conhecer as suas próprias necessidades e emoções – deixando de existir (psicologicamente) em função daquilo que esperam de si - na derradeira esperança de ser gostada!
Na infância, a “prenda oferecida” aos pais eram os elevados resultados escolares, a obediência, a conduta exemplar, na adolescência e, porque existem agora os pares para agradar (dado o receio de não ser aceite, de não se integrar), o emagrecimento surge como a forma que encontram para serem motivo de interesse e admiração dos últimos.
Ora sabendo-se que, a magreza é factor de admiração na nossa sociedade, percebe-se que inicialmente, estas jovens se sentem mais confiantes, com a auto-estima ligeiramente insuflada, vale dizer mais competentes, menos inseguras, ao serem elogiadas pelas pessoas com que convivem. Mas, quando o emagrecimento se torna excessivo e, ao invés de ouvirem comentários gratificantes, ouvem opiniões menos positivas e de franca preocupação, aquilo que os outros pensam deixa de ter importância, assim como, evidenciam uma particular despreocupação relativa às consequências médicas graves decorrentes do estado de mal-nutrição.
É que nesta altura, não podem ou sentem não poder abandonar a função “vital” que a Anorexia Nervosa, vem ilusoriamente preencher: a realização de dietas, com a consequente perda de peso, vem dar a estas jovens um sentimento de competência e eficácia – sou capaz! – e, ao mesmo tempo vem enganar a inferioridade sentida em relação aos outros – controlo-me como ninguém, a minha disciplina e convicção não se encontram em todas as pessoas!
De facto, como Daniel Sampaio tão bem verbalizou, “A Anorexia Nervosa não é uma doença de dietas e calorias!”, a que eu acrescento – é uma doença dos afectos, por excelência. Dizia uma paciente: “ Não consigo ficar bem por mais que queira, não quero deixar as dietas, e se engordo outra vez? E se fico gorda, depois começa tudo outra vez... não, não consigo”, a que eu respondi, “Tem medo de voltar a sentir-se inferior, sem competências, porque de forma enganadora a Anorexia veio fazê-la sentir-se capaz, forte emocionalmente.”

Eliana Baptista

"Quando a Cabeça Não Tem Juízo...o Corpo é Que Paga."


Quando a Cabeça Não Tem Juízo…

Já António Variações cantava e muito bem, “Quando a cabeça não tem juízo. Quando te esforças mais do que é preciso. O corpo é que paga…”.

É muito comum nos dias de hoje, ouvirmos relatos de pessoas que se queixam de problemas físicos, para os quais não encontram justificação, pois realizam uma série de exames médicos, que acabam por não fundamentar os batimentos cardíacos acelerados, as tonturas, a falta de ar, as dores de estômago, os vómitos, as dores musculares e por aí além.

Estas situações, cada vez mais frequentes, são muitas vezes mal compreendidas, pois na ausência de justificação médica, são tidas como meras chamadas de atenção, ou nervosismo, não lhes sendo dada a devida importância e o tratamento adequado.

Ao falarmos de psicossomática, temos que começar por perceber, que embora haja uma implicação emocional no processo, os sintomas físicos resultantes desta problemática, são realmente sentidos e causam dor, pânico, cansaço, falta de ar, entre outras sensações, não devendo por isso, a queixa de quem sofre, ser tratada como algo que não existe.

A psicossomatização, é o processo através do qual, uma pessoa transfere para o corpo, uma carga emocional relacionada com conflitos internos, com os quais tem dificuldade em lidar. Sendo assim, perante a dificuldade em exteriorizar as emoções, estas vão sendo acumuladas mentalmente e recalcadas, para que ninguém as perceba e para que se possa evitar o confronto. No entanto, o espaço dentro da caixinha, que é a nossa mente, dedicado a estas emoções é limitado e há alturas, em que inevitavelmente, transborda.

O que sucede, é que a tensão provocada pelo armazenamento de coisas não ditas, vontades contrariadas e agressividade não expressada, acaba por se acumular no corpo, causando manifestações, que variam de pessoa para pessoa, de acordo com a idade, personalidade e até com a problemática psicológica em questão.

Penso que todos já passámos pela situação de irmos fazer um teste com de dores de barriga, ou com sensação de náusea. Pois este exemplo retrata a o lado “soft” da somatização.

Devemos encarar a situação com mais seriedade, quando o nosso dia a dia começa a ser afectado e a nossa saúde física a ser degradada, pois embora o problema não parta do corpo, parte da mente para ele e, uma vez que lá chega, o problema é real. Tão real, que em alguns casos muito graves, podem surgir doenças físicas francamente complicadas.

Não invalidando a importância de um bom acompanhamento médico nas situações de psicossomatização, a toma de medicação vai aliviando os sintomas temporariamente, mas não alcança o fundo da questão e o que sucede, é que a tensão vai sempre procurando novas formas de ser aliviada. Se algum comprimido suprime o aceleramento cardíaco ou acalma a ansiedade, é bem possível, surgirem dores no corpo.

Existem situações que são temporárias e relacionadas com alguma questão pontual. No entanto, a maioria dos casos que tenho observado, prendem-se com questões relacionais muito presentes na vida de cada um, relacionadas com os vínculos familiares, sociais e profissionais, com os quais se lida diariamente.

Em muitos casos, apura-se uma incapacidade para expor opiniões ou para expressar agressividade perante algo desagradável que parta do outro. E voltando a António Variações, “Quando a cabeça não se liberta das frustrações inibições, toda essa força que te aperta. O corpo é que sofre…”.

Nas crianças, a somatização surge da mesma forma, mas com manifestações como febre, enurese nocturna (xixi na cama), vómitos, dores de barriga, entre outras, sempre que alguma coisa as preocupa seriamente, sobre a qual não quiseram, não puderam, ou não conseguiram falar.
Também os mais pequeninos guardam na sua caixinha mental, tudo o que consideram feio, mau e prejudicial, acarretando a culpa por tais sentimentos.

Por exemplo, é habitual as crianças reprimirem sentimentos de raiva em relação aos pais, quando estes os contrariam, pois somos ensinados a gostar sempre deles e a acreditar que têm sempre razão. São poucas as que são ensinadas a expressar tais afectos negativos sem se sentirem fortemente culpadas.

Normalmente cumprem o castigo “rogando as suas pragas” aos pais em silêncio, ou ficam extremamente ofendidos por apanhar uma palmada, infelizmente em alguns casos, mais do que uma, mas poucos exprimem o quão zangados e furiosos ficam. Não verbalizam os “não gosto de ti”, “agora não te quero ver” ou “magoaste-me muito”, acumulando-os no seu mundo interno.

Se todos esses sentimentos não são exteriorizados através de birras e palavras, acabam por ser expulsos através de um xixi na cama, ou vómitos durante a noite, entre outras manifestações.

Nos adolescentes e nos adultos a gravidade da situação e permanência dos sintomas pode ser mais grave, uma vez que recalcamentos e conflitos internos podem estar mais cristalizados e menos susceptíveis de serem trabalhados.

Em qualquer idade, estas situações não devem ser encaradas como fases, que vão passar, mesmo que só se manifestem ciclicamente, pois o seu encobrimento pode gerar situações mais complicadas e problemas físicos muito reais e graves.



Helena Mourão. Fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Boas Memórias

Excerto do meu relatório de estágio...

Recordando o primeiro dia em Santa Maria, a lembrança é a de um menino perdido, embora rodeado de pessoas, cujo olhar pairava sobre o nada.
Deste primeiro contacto com um mundo em que tudo parecia estar suspenso no ar, sem terreno seguro para pousar, nasceu uma vontade de descobrir novos mundos e possíveis formas de se viver neles.
Esta vontade já alcançada, realizou em cada passo um desejo de avançar mais e de dar mais.
A gratificação, surgiu sob a forma curiosa de um sorriso ou no alívio de um choro que desabafa, na conquista de pequenas capacidades, na descoberta de novos caminhos e na vontade de os percorrer.
E se a início o sentimento era um misto de curiosidade e medo, com o passar do tempo, o desintegrado integrou-se, o perdido foi encontrado e as angústias foram contidas. A desorientação, por vezes experienciada foi acalmada por ajudas conselheiras, orientadoras dos melhores percursos.
Neste mar de descobertas, por vezes com algumas ondulações, foi-se apurando um saber e um saber fazer em Psicologia Clínica, promovendo-se o início de uma longa etapa a percorrer, onde a aquisição de experiência ainda agora nasceu.

Helena Mourão, 2000

"Sinto-me Mal com o Que Sou"


... para uma breve leitura da depressão infantil.


Em Amor de Perdição, obra recheada de afectos depressivos na sua expressão fundamental – a ameaça da perda do amor daquele que dependemos emocionalmente – Camilo Castelo Branco, escreve assim: “... no amor que nos dão, é que nós graduamos aquilo que valemos em nossa consciência...” . Eu acrescentaria, é na qualidade do afecto que recebemos, que avaliamos a nossa potencialidade para sermos amados.
Esta afirmação é acima de tudo fiel, quando é de crianças que falamos, uma vez que, é precisamente na infância em que mais dependemos da apreciação que fazem de nós, a qual é decisiva se tivermos em conta que, é nesta altura que os pilares, da nossa personalidade futura, se apoiam.
Quando somos pequenos, tudo aquilo que nos oferecem, todas as experiências relacionais a que estamos expostos confluem, e de que maneira, na representação interna que vamos fazendo de nós mesmos e, de nós na relação com os outros – assim, se as experiências forem valorizantes, gratificantes, vale dizer, de qualidade, cresceremos com uma imagem positiva, com um sentimento de segurança, confiança e valor pessoal, bem como, com a crença de que realmente, podemos partilhar a nossa interioridade, e também as nossas vivências com as outras pessoas, porque da interacção relacional poderá brotar algo criativo, prazeroso.
Se pelo contrário, as nossas primeiras trocas afectivas com o “mundo” forem frustrantes, desvalorizantes ou insuficientes em comparação com o que precisamos, formaremos uma imagem negativa de nós próprios, desacreditaremos nas nossas capacidades e, sentir-nos-emos em permanente inferioridade em relação às outras pessoas que, julgaremos sempre melhores que nós.
Mas então, porque razão nos construímos assim? A resposta é simples, ainda que em muitos casos, de complexa compreensão – é que, quando damos os nossos primeiros passos no palco relacional, aquilo que nos faz ficar de pé é a imagem que vemos reflectida nos olhos e actos daqueles de quem dependemos, assim, como o actor de profissão, precisa do aplauso e reconhecimento do público para continuar confiante a representar. Quer isto dizer, que gostamos de nós depois de termos percepcionado e sentido que alguém nos amou apaixonada e incondicionalmente – em pequenos, dependemos em grande grau da imagem que vemos reflectida no olhar espelhado do Outro!
A criança deprimida sente-se desinteressante, inferior, incapaz, pouco valorizada e apreciada, guardando dentro de si um imenso sentimento de infelicidade e, considerando-se responsável (por falta de atributos!) pela desilusão que julga ter causado aos seus pais, “por sentir não ser o filho que estes gostariam de ter”. Este aspecto, em alguns casos não é real, os pais gostam e desejam aquela criança, mas, não o expressam de forma a que esta o perceba. Daí as frequentes auto-depreciações como, “não consigo, não sei, não sou capaz, não sirvo para nada, os outros são melhores que eu,...” e, quando reina uma culpabilidade imensa, “não mereço, sou má, só faço os outros ficarem tristes....”. Toda esta comunicação está indubitavelmente, agrilhoada a um olhar apático, frágil, amedrontado ou, ávido, na esperança de poder receber algo de bom.
De salientar, que a depressão na infância não se expressa da mesma forma que a depressão no adulto, dependendo da idade de desenvolvimento com frequência se observam as seguintes máscaras da afectividade depressiva: na primeira infância, alterações alimentares e do sono (respectivamente, falta de apetite e a insónia ou hipersónia); perturbação do controlo dos esfíncteres (por exemplo, o fazer chichi à noite – enurese -, ou o cocó em alturas inapropriadas do dia – encoprese); queixas de dores de cabeça, abdominais sem causa física; em idade escolar as dificuldades na aprendizagem (problemas de comportamento, dificuldade em adquirir, reter, ou usar conhecimentos); os problemas de comportamento (instabilidade, hiperactividade, agressividade, furtos e mentiras ou, inibição e isolamento).

O antídoto para a depressão? Nada melhor que uma educação afectuosa, compreensiva, calorosa, na qual a criança se sinta acolhida e livre de exprimir o que deseja, mas, tal como, Pedro Strecht referiu, “... sem abdicar de marcar regras e limites, porque os sentimentos de falha afectiva ou insuficiência, podem ter origem quer no excesso de restrições e impeditivos de acção, quer na ausência dos mesmos. Sem os primeiros, as crianças não recebem o suficiente, sem os segundos recebem o suficiente, mas não lhes chega e falta sempre muito mais para o que esperam ou desejam...” .
Para uma criança feliz é, preciso tudo: saber amar, escutar, compreender, brincar, ralhar... é preciso encontrar a resposta justa e adequada em função desse pequeno ser e da leitura das suas necessidades ... . E acima de tudo, é preciso não esquecer que, tal como Camilo Castelo Branco escreveu e, eu completei, é a qualidade do amor que nos dão, que determina a nossa auto-imagem e, mais tarde a nossa capacidade de solucionar problemas e realizar adaptações.

Eliana Baptista

"Abatimento em Dias de Sol"


Estranhamente ou pelo menos não desejavelmente de um ponto de vista social e idealizado, sinto que a chegada dos dias de sol, dias bonitos de verão nos quais se pensou e sobre os quais se sonhou todo o ano, há um número considerável de pessoas tristes, incapazes de os gozar. Prova disso, são os sinais de abatimento na face escondida de muitos, ou o aumento do número de consultas de psicoterapia em época de férias.
Pode parecer incompreensível e até mesmo inacreditável para aqueles que aproveitam todo este calor, todo este sol para carregar energias, passeando, indo à praia, saindo com amigos e familiares, esquecendo finalmente, o quanto custou acabar todo o trabalho ou todos os exames até à muito desejada e benéfica época de descanso. Contudo, para algumas pessoas parece que o Verão as veio entristecer mais, perguntei-me muitas vezes porquê, apercebendo-me ao mesmo tempo que estas nuances mais depressivas já se vinham a manifestar timidamente na altura da Primavera; então, recolhendo várias parcelas do sentir de muitos de nós, concluí que de facto, para quem está angustiado, nada pior que o bom tempo e tudo o que ele inaugura em seu redor, pois, é como se o bom estivesse todo fora do próprio e o mau dentro de si, como se a luz estivesse toda no exterior e, o escuro no interior.
Esta é uma dor que merece ser reflectida, para poder ser melhor ultrapassada. Não raramente, ao sentirem este tipo de emoções mais negativas, numa altura em que ninguém ousa exprimir algo de menos positivo, estas pessoas tendem a isolar-se bastante auto-avaliando-se como inferiormente diferentes, aborrecidas, companhias desagradáveis, culpadas por também não pularem de alegria, envergonhadas pelos afectos que as avassalam, jamais imaginando que podem falar sobre todas as razões que as conduziram a certo abatimento.
Não esqueço nunca o que uma paciente me dizia: “ Sabe o que me levou a vir aqui? A certeza de que pelo menos pagando eu posso ter alguém que me ouça e se esforce para compreender o que estou a sentir. Bem sei que os meus problemas sou eu quem irá ter que resolver, mas tendo a enorme alegria de os pensar consigo, de me conhecer melhor...” . Este curto relato fala por si só, expõe de forma muito clara e objectiva de que forma os sentimentos de solidão e vazio por si só, podem maximizar algumas problemáticas da vida de qualquer um. Exprime também de que modo grande parte das pessoas se sente nos nossos dias, mesmo antes dos dias de Verão ... mesmo sem aparentarem abatimento... é que às vezes, também se sente assim quem anda frenético num vai e vem de actividades, mas com um nervosismo interior permanente.
Nós somos seres de relação e, muitos dos nossos sentimentos são partilhados por um sem número de pessoas, variam apenas na intensidade com que, em determinadas alturas se manifestam, é necessário haver abertura para ouvir as angústias de quem está perto de nós, afinal tal como alguém um dia referiu: “ por alguma razão nós temos dois ouvidos e só uma boca ...”.
Crescemos imenso ao ouvir os outros, eles também espelham um pouco do que nós somos e ajudam a conhecermo-nos melhor.
Eliana Baptista

"Terra à Vista"


Imaginemos uma pessoa que navega à deriva num mar calmo, onde não se avista nada para além do azul imenso da água e do céu. Ao longe, para onde quer que olhe o horizonte é só um, onde o mar e o céu se tocam e nenhuma referência parece indicar o caminho a seguir.
De repente, terra à vista! Surge a oportunidade, sob a forma de uma paisagem desconhecida, de deixar o mar tranquilo e ao mesmo tempo monótono, que já se conhece e que não tem nada de novo.
A terra apresenta-se assim como um mundo novo pronto a ser descoberto, a ser explorado, mas também como algo estranho, cheio de novidades que não se sabe serem boas ou más.
Tal visão que rompe o horizonte provoca insegurança, por ser desconhecida. Subir para terra implica quebrar uma ligação com o mar que já se conhece e procurar novos vínculos por entre a vegetação, em busca de novos caminhos.
Surge então a dúvida do que é mais seguro. Se vale a pena vencer o medo do desconhecido para se poder conhecer, ou se é preferível permanecer na ignorância do azul do mar, que embora bonito, tranquilizante e seguro, onde já se sabe o que pode acontecer, não passa a ser mais do que é e não promove o conhecimento de nada novo.
Encarando a chegada à terra como uma situação angustiante, onde o sujeito se depara com a frustração de não encontrar nada conhecido, nada que o oriente e securize, o sujeito tem duas soluções que dependem das suas capacidades egóicas. Ou tolera a angústia retirando dela a força necessária para avançar no conhecimento, ou deixa-se dominar por ela, sentindo-a de tal forma avassaladora, que tem de se livrar dela em primeiro lugar, deixando a descoberta de parte.
No seu artigo sobre “Sentir, Pensar e Aprender” (1996), Emílio Salgueiro relacionou a angústia com a aquisição de conhecimento e com o consequente crescimento dizendo que « angústias contidas estimulam o crescimento, angústias transbordantes paralisam-no. ». De facto é mesmo isto que sucede.

Helena Mourão, 2001
Excerto da Introdução - "Transformações Num Caso de Psicose Infantil:
Estudo A Partir do Rorschach"

Sobre o EBHM

EBHM são as iniciais dos nomes das duas Psicólogas Clínicas que deram vida a este espaço terapêutico. Eliana Baptista e Helena Mourão, licenciaram-se no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em condições pré-Bolonha. Embora já se conhecessem, foi após um reencontro proporcionado pela actividade profissional, que despertou a vontade conjunta de trabalhar em equipa.